domingo, 30 de abril de 2023

Inspirações e influencias no meu " E agora quem avança..."

 Algumas pessoas que leram o livro ou participaram no debate "Racismo e resposta multirracial " ( Fórum de ideias- NEA/INEST/UFF, Rio de Janeiro) baseado nele, se interessaram sobre a afirmação de um dos protagonistas ( da Mauritânia) considerando a " raça como máscara". A expressão está mesmo reproduzida na quarta capa. Gerou simpatias, ataques e dúvidas.

Na verdade o livro é inspirado por dados históricos reais, tanto do século XV como XX e XXI, em todos os casos tendo a Mauritânia no centro e grandes efeitos no Brasil, Portugal e toda a costa oeste africana. Nesse quadro influiu o cronista português dos séculos XV e XVI Gomes Eanes de Zurara. Mas contou muito minha própria vivência da Mauritânia há alguns anos.

Maior vivência pessoal  ainda determina toda a narrativa na faixa Angola-Namíbia, acrescentando um foco cujo maior teórico é Edouard Glissant, ou seja a noção de Relação, oposta aos excessos identitarios e à hegemonia. 

Ao mesmo tempo, em todos os episódios do livro, aquela afirmação do principal personagem mauritaniano foi criada por mim, porém baseada em frases semelhantes que tenho ouvido em vários países e na abordagem de Frantz Fanon no seu livro " Pele Negra Máscaras Brancas", considerando eu que as cores das máscaras se generalizaram com os desdobramentos do racismo.  Fanon infelizmente nos deixou muito cedo.

Interessante que esses dois teóricos centrais para mim sejam ambos nascidos na ilha da Martinica.

Situar no Brasil atual o início e várias passagens do livro  é consequência do meu cotidiano brasileiro, acrescentando-lhe a própria dimensão continental do país e impacto da realidade onde a narrativa está ancorada.

Enfim um terceiro ponto  surgiu explicitamente na apresentação do livro em Lisboa. O título do livro decorre de frase muito ouvida na clandestinidade anti-colonial angolana a ponto de ter sido dita em conversa entre duas eminentes personalidades dessa fase em Luanda (Cônego Manuel das Neves e Eugenio Ferreira).

A sensibilidade da temática geral do livro gera sempre isto: de elogios a insultos ou incompreensões. Faz parte e só demonstra que é campo de luta em primeiro plano, parte do grande processo construtivo da nova Relação entre seres humanos. Sem máscaras.



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