sexta-feira, 18 de novembro de 2016

crianças de terceira cultura

A expressão foi criada na década de 50 do século passado pela socióloga Ruth Hill Useem para designar os filhos de casais cuja atividade profissional obriga a mudanças constantes de país. Diversos trabalhos foram publicados desde então e a BBC faz hoje um um bom texto online sobre a matéria. O fenómeno acentuou-se com as grandes migrações, posteriores ao primeiro trabalho da Ruth e hoje podemos dizer que há milhões de pessoas culturalmente produto de multiplos ambientes. Algo como uma crioulidade mundial. Alguns sociólogos assinalam que se trata de pessoas "de todos os lugares e de lugar nenhum". Acho  certa essa avaliação. Na pratica sou até um exemplo com tanto nomadismo e tantas afinidades espalhadas, mas, ao mesmo tempo tantas rejeições e inadaptações. Aliás, qualquer cultura  insere todos esses elementos: afinidades, aportes diversos, rejeições (próprias ou dos outros) e adaptações ou inadaptações.
O texto online da BBC diz que pessoas nestas condições  são muito procuradas no mercado de trabalho, porque têm conhecimento de várias línguas e uma maior visão mundial, além de que na pesquisa respectiva a BBC cita 30% como detentores de pós graduações. Por outro lado, psicanalistas referem alto grau de ansiedade nestas pessoas, provavelmente pelo sentimento de não pertencer a nenhum lugar específico ou pelo peso das rejeições. Estas duas considerações são  minhas, baseadas em sentimentos meus, criadores de sensação de vulnerabilidade, de combate no isolamento. Nem sempre é verdade, é mais receio, porém, existe em muita gente, sobretudo mais pobre e com menos amigos, com razão. Construir esta nova cultura não está fácil. Nunca foi fácil construir uma nova cultura. A História está cheia de acusações de heresia por esse motivo e até já conduziu a repressões brutais. Recentes evoluções políticas xenofobas ou obscurantistas em vários países anunciam nova fase de tal combate.

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