A inauguração do porto de Chancay, no Peru, reforça o estudo de opções nas vias interoceanicas sul-americanas. O evento coincidiu com a Cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico ( APEC), em Lima.
Antes de mais, a grande mídia internacional ( incluindo a mais respeitável) considera Chancay como " porto chinês", forte ignorância geográfica: fica situado no Peru, portanto, sob soberania peruana. A maioria do capital ( na construção e operação) é da Cosco Shipping, chinesa, porém, não é lúcido esquecer os 40% da peruana Volcan, nem a sempre presente hipótese de alterações no capital, sobretudo após o período do retorno completo do investimento.
Chancay, Peru
Chancay terá 15 cais e profundidades de 17/18 metros, ou seja, capacidade múltipla de carga/descarga e super-cargueiros. É enorme estímulo para a economia peruana, pode funcionar como hub para trocas de outros países sul-americanos com a China, reduzindo de 35 para 23 o número de dias necessários à navegação entre os dois lados.
É óbvia a incidência nos volumes e custos, considerando a intensidade geral do movimento.
No Brasil, o Acre está fortemente interessado. Situado a cerca de 1.800 km da costa peruana, o Governo estadual tem pressionado no sentido de adequação de infraestruturas e já obteve parte delas. Dois problemas: a subida dos Andes obriga recurso a caminhões apenas de médio porte e as infraestruturas são necessárias também do lado peruano.
A importância da opção é enorme, daí a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, ter estado em Lima no mês de março. Opção que não exclui outra ou outras.
No Chile, há vozes preocupadas com a concorrência de Chancay sobre os portos chilenos. Sem motivo, caso se articulem bem com Argentina e sobretudo, com o Brasil, que já avançou muito no corredor bioceanico entre Santos e Paranaguá e o litoral chileno, onde estão Valparaiso, San Antônio e Antofagasta.
Antofagasta, Chile
Atravessa o Paraguai e Argentina - que têm vias de acordo com os imperativos ou para serem melhoradas. Aqui aparece de novo o obstáculo cordilheira, mas também a vantagem de ligar quatro economias sub-continentais, justificando investimentos vultosos. Talvez menos que os 3,5 bi USD anunciados em relação a Chancay.
Gráficos recentes sobre o corredor bioceanico, a nível de Campo Grande (o tráfego de grãos é decisivo) até Mumbai ( Índia) assinala economia de cerca de 100,00 USD por tonelada, relativamente à ligação via canal.do Panamá.
Vamos então a conclusões sumárias:
- estas ligações entre oceânos são complementares e servem tanto ligações internacionais como integração sul-americana;
- o medo do capital chinês no empreendimento peruano é irracional. É IDE ( investimento direto estrangeiro) como qualquer outro, sujeito à legislação local.
- a Ásia-Pacífico é hoje a região de maior dinamismo econômico mundial. São várias grandes economias e todas são prioridade para o Brasil, tal como a integração com os vizinhos. Assim, os diversos " corredores" são exigência correspondente à dimensão do país. Exportar da Amazônia não é como exportar de São Paulo ou Mato Grosso.
Estas breves considerações surgem no momento em que a chegada de Trump à Casa Branca vai diminuir o multilateralismo e o governo argentino está na mesma linha. Portanto, construir links sólidos e diversos tem significado existencial, quando se pensa em desenvolvimento, não apenas em ciclos de crescimento.
Este quadro mundial já estará patente na Cúpula do G20, aqui no Rio a partir de segunda-feira,18 de novembro e aumento tendencial a partir do próximo ano. Impossível prever por quanto tempo.
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