sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Considerações sobre a vitória de Trump


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A eleição de Donald Trump com larga maioria do voto popular, coloca a céu aberto algumas considerações sobre o mundo atual, ou seja, vai muito além dos Estados Unidos e nem sequer são novidade, pois existem em forças semelhantes de todos os continentes.

A nível político-social, as desigualdades sociais continuam sendo forte motor de mudança, mas não obrigatoriamente em sentido único. Várias vezes na História, setores radicais das áreas conservadoras captaram o descontentamento, sempre que as forças progressistas entraram na rotina e se contentaram com seu próprio discurso, passando a fazer voo cego.

Um mercado de trabalho em expansão – notável nos Estados Unidos – não é garantia satisfatória se os salários estiveram desiquilibrados com relação ao custo de vida ou se a média salarial estiver muito abaixo dos rendimentos mais altos. Quando sucessivos governos reformistas não conseguem resolver esta equação, a extrema direita aproveita para mobilizar com base em promessas de liderança salvadora, decorrente de seus princípios anti-democráticos (ou de “democracia limitada”). Claro que nesta base não vão resolver problema nenhum, mas criam um clima propício à tomada do poder ou se tornarem muito influentes.

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Apesar de seus discursos discriminatórios, xenófobos e patriarcais, a extrema direita foi favorecida pela queda gradual do identitarismo, do qual se servem ferozmente em outros países. 

Assim, Trump teve o apoio de 44% das mulheres votantes, 15% do eleitorado negro e pode ter obtido perto da metade do voto latino. Estes percentuais revelam minorias muito numerosas, sem as quais Trump não ganhava. O voto de pessoas negras em Trump já estava em 9% na eleição precedente, o voto latino nos republicanos há muito tinha saído da faixa cubano-americana da Florida e grande parte das mulheres vota de acordo com seu ambiente familiar, crenças e desafios relacionados. 

Estes dados têm perfil de tendência.  As mulheres não são uma camada social única, estão em várias. As populações negra e latina, também não são homogêneas desse ponto de vista e apresentam fortes desigualdades sobre níveis de vida. Esses fatores assumem mais importância que “origens” ou “heranças”, simplesmente porque as pessoas se determinam e relacionam através de seus status atuais, tanto nos que empobrecem como nos que enriquecem.

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Dois beneficiários dessas determinantes e relações, os senadores republicanos Ted Cruz e Marco Rubio têm duas explicações. Cruz vê a motivação principal na mudança de geração e Rubio afirma estar em curso uma mudança da identidade comunitária ou racial para a das ocupações, querendo significar ocupações profissionais. Teria sido talvez mais preciso dizer segmento de renda e, mais preciso ainda, ultrapassagem do identitarismo pelo status social.

Ao benefício destas alterações, a extrema direita acrescenta um disfarce de sua natureza autoritária ou totalitária, fazendo amalgama de todas as opiniões de esquerda ou do centro reformista com seitas dedicada a mercantilização de conceitos aberrantes e campanhas de difamação. É mais uma generalização falsa, do arsenal das fake news, porém, aquelas seitas continuam a fornecer elementos de propaganda à extrema direita.

Agora vêm as políticas econômicas.

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Para já a bolsa de Nova York reagiu favoravelmente ao resultado eleitoral e o dólar reafirmou seu valor internacional. O ouro como valor refúgio recuou um pouco. Os impostos vão baixar, sobretudo para os detentores de capital, portanto, baixando também os programas sociais federais. Nestes termos, o crucial problema do poder de compra só terá melhoria considerável se o investimento privado inserir aumentos salariais e alargamento das condições de poupança das famílias. De contrário, as desigualdades vão se manter ou aumentar e o sentimento de frustração social se voltará contra Trump.

Se o presidente eleito é contra intervencionismo estatal a nível de programas sociais, ele é favorável a pressão governamental quanto às decisões do Banco Central, a ponto de surgiram perguntas sobre a extensão da independência deste nos próximos tempos. Aqui está uma possibilidade de choque com efeitos de incerteza no comportamento dos grandes atores econômicos.

A Inovação Tecnológica em geral, não vai mudar seu perfil, seja qual for o locatário da Casa Branca. Tem dinâmica própria e todos têm interesse nela como fator de hegemonia. Trump não vai fazer nada de diferente daquilo que se faz desde Bill Clinton.

De acordo com o programa eleitoral vencedor, é provável uma “chuva tarifária” no curto prazo, reveladora de vontade protecionista. As trocas internacionais serão atingidas, afetando muitas empresas norte-americanas também. Neste ponto, é crucial saber qual a capacidade de resistência da China e da União Europeia, mas também de países latino-americanos que têm os Estados Unidos como parceiros de topo. Crucial ainda será o quadro militar mundial. Netanyahu, no curto prazo, é vencedor junto com Trump, porém, eventual acordo de Washington com Putin não vai parar a guerra na Ucrânia por si só, depende muito dos cálculos de médio prazo da Europa e China.

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Quer dizer, as medidas norte-americanas de guerra econômica contra a União Europeia e a China, têm de levar em conta os efeitos colaterais sobre os pontos de confronto armado.  

 

Um comentário:

  1. Muito bom . Ajuda-nos a entender a complexidade da relação nos EUA.
    Importante o destaque à questão da não homogeneidade quanto à população negra/Latina... muito a pensar ...

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