quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Chefe do Pentágono em Angola: impactos africanos e no Atlântico Sul

 A recente visita a três países africanos ( Djibuti, Quênia e Angola) do secretário norte-americano da Defesa, general Austin, chamou grande atenção para pontos chave do continente africano, como sempre sucede em momentos de forte crise mundial. É assim desde o século XVII.

Esta movimentação suscita em Angola um debate importante, no qual sublinho o muito reproduzido artigo de meu amigo de Benguela, Jaime Azulay, um dos maiores jornalistas angolanos e ex combatente das Fapla.

Então, entro também na conversa e vejo os seguintes pontos:

A França enfraquece sua influência ( pelo menos para já), a Rússia estende sua presença militar e a China mantém sua força econômica. Os EUA avançam para preencher o vazio francês e contrariar os russos no plano militar e os chineses no econômico. 

Após a visita do general Austin, Angola espera uma poderosa delegação agrícola USA. Recentemente em Hanoi, Joe Biden voltou a referir os projetados investimentos ou financiamentos de seu país na energia solar em Angola que, se forem executados na totalidade, farão deste país o maior produtor africano do ramo.

Tudo isto causa alguma surpresa mundial na medida em que muita gente ainda vê Angola como era durante a intervenção cubana, economia marxista, partido único, etc. 

A definição dos EUA como primeiro parceiro de Angola foi tornada explícita no discurso de posse do Presidente João Lourenço, em 2017. Por outro lado, se a Constituição angolana proíbe bases militares estrangeiras, o mesmo artigo diz que Angola pode participar em sistemas de defesa coletiva.

O impacto angolano no conjunto das Áfricas Austral e Central é evidente, estendendo-se a todo o Atlântico Sul graças à sua fachada maritima de 1.650 km. 

Em termos de imagem política internacional, JLo foi eleito com 51% dos votos, perdeu na capital e a oposição prepara um processo de destituição sem que os proponentes sejam presos.

Comparando com a maior parte dos países africanos é uma diferença monumental.  A situação social é que não é diferente e, tanto o governo angolano como seus aliados têm o imperativo de melhorar este quadro rapidamente. Senão, estabilidade interna e sustentabilidade de acordos ficam expostas a abalos a qualquer momento. 

Ainda na comparação africana, os ocidentais desconfiam muito da África do Sul. Sobre as instituições políticas, porque o ANC pode vir a ser controlado pela sua tendência mais anti-ocidente ou mesmo perder as eleições para uma aliança chefiada pelo EFF de Julius Malema. Sobre as militares, porque a Marinha sul-africana realizou manobras conjuntas com as homologas da Rússia e China.

A mídia oficial angolana sublinha o caráter defesa e segurança desta visita. O chefe do Pentágono mencionou cooperação no domínio das mudanças climáticas e combate à pesca ilegal. 

A delegação agrícola vai muito provavelmente focar estes dois pontos avançados por Austin, acrescentando-lhes segurança alimentar, centro nevrálgico para toda a África e para a redução da inflação global.  

Talvez essas negociações nos forneçam dados concretos sobre os investimentos ou financiamentos na energia solar e possível extensão à eólica. 

O futuro, a curto ou médio prazo, nos dará informações sobre o conteúdo e alcance da mencionada parceria estratégica. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário