sábado, 1 de julho de 2023

Poesia da Kátia

 KÁTIA CASIMIRO 


A preta , pretinha !

Sou preta ,pretinha,
filha ,neta e bisneta de pretas.
Exalto a mulher preta 
desde a  escrava , a guerreira e a rainha 
Aquela sofredora e  vencedora ,desde o passado aos nossos dias.  
Aquela preta ,invisível, transparente e lutadora  
Que nasce e renasce a cada manhã. 
Não  peço  licença  para me pronunciar  
Pois este é um assunto que tenho mesmo de falar.
Sou preta ,pretinha,
E tenho a responsabilidade  de narrar o meu passado!
Não  me levem a mal , mas é que na minha mente  
ficou tudo registado.
Fui arrancada a força do meu berço,
,lançaram me num navio  sem preservar minha  diferença,
Transformaram o meu corpo em máquina reprodutora
Tiraram me o titulo de realeza e apagaram o meu sobrenome.
Arrancaram dos meus braços os meus  filhos  
Mas continuei preta , pretinha
Transformaram e desenvolveram a base da pirâmide com a minha dor  
E nas minhas costas carreguei o peso sozinha.
Transformaram me em  estatística,  
a estatística da desigualdade da subserviência, da violência, da mortalidade, e continuei sendo a preta ,pretinha  
Deram me o  título de fortaleza para aguentar com toda  a dor possível, 
Os  meus sentimentos anularam ,como se isso fosse credível  
Tentaram excluir  me das universidades, da ciência, da tv
tentaram me fazer acreditar que não devo amar os meus iguais ,  
tentaram calar a minha voz,e esconder a minha  dor  
tentaram tirar a minha  humanidade, sem dó nem piedade
E aqui estou eu , preta  pretinha!  
Sim , sou preta ,pretinha e preta não é só a minha pele,  
Preta é a minha  identidade ,
Preta é a minha gente,  
Preta é a minha resistência .
Preta é  a minha voz .
Não é  preciso muita ciência,  
Para aceitar esta verdade  
Nasci preta,morrerei preta
Preta ,pretinha é a minha identidade.  


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