KÁTIA CASIMIRO
A preta , pretinha !
Sou preta ,pretinha,
filha ,neta e bisneta de pretas.
Exalto a mulher preta
desde a escrava , a guerreira e a rainha
Aquela sofredora e vencedora ,desde o passado aos nossos dias.
Aquela preta ,invisível, transparente e lutadora
Que nasce e renasce a cada manhã.
Não peço licença para me pronunciar
Pois este é um assunto que tenho mesmo de falar.
Sou preta ,pretinha,
E tenho a responsabilidade de narrar o meu passado!
Não me levem a mal , mas é que na minha mente
ficou tudo registado.
Fui arrancada a força do meu berço,
,lançaram me num navio sem preservar minha diferença,
Transformaram o meu corpo em máquina reprodutora
Tiraram me o titulo de realeza e apagaram o meu sobrenome.
Arrancaram dos meus braços os meus filhos
Mas continuei preta , pretinha
Transformaram e desenvolveram a base da pirâmide com a minha dor
E nas minhas costas carreguei o peso sozinha.
Transformaram me em estatística,
a estatística da desigualdade da subserviência, da violência, da mortalidade, e continuei sendo a preta ,pretinha
Deram me o título de fortaleza para aguentar com toda a dor possível,
Os meus sentimentos anularam ,como se isso fosse credível
Tentaram excluir me das universidades, da ciência, da tv
tentaram me fazer acreditar que não devo amar os meus iguais ,
tentaram calar a minha voz,e esconder a minha dor
tentaram tirar a minha humanidade, sem dó nem piedade
E aqui estou eu , preta pretinha!
Sim , sou preta ,pretinha e preta não é só a minha pele,
Preta é a minha identidade ,
Preta é a minha gente,
Preta é a minha resistência .
Preta é a minha voz .
Não é preciso muita ciência,
Para aceitar esta verdade
Nasci preta,morrerei preta
Preta ,pretinha é a minha identidade.
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