domingo, 22 de abril de 2018

Irregulares e Decididos (2)


A República Centrafricana (ou Centro-Africana) está de novo em risco de guerra, apesar da presença de importante força da ONU (MINUSCA). O antigo movimento Seleka (significa Aliança), composto em maioria por muçulmanos ( que  são minoria no país e se consideram perseguidos, sobretudo na capital) está a reconstituir a sua unidade ou pelo menos colaboração de tendências, transformadas em milicias, ameaçando atacar a capital ou, no mínimo, fazer ataques e atentados dentro dela. Este movimento teve inicio como guerrilha perto da fronteira sudanesa e esteve no poder em Bangui durante pouco mais de um ano. Nesse periodo foi acusado de constantes violações dos direitos humanos, brutalidade e incompetência. Foi derrubado. Um elemento que contribuiu para tal foi a criação do grupo de auto-defesa Anti-Balaka, visto como cristão. Inicialmente de auto-defesa transformou-se em milicia e também foi objeto de acusações de brutalidade, sobretudo contra os muçulmanos. Um ponto de atrito desde então é o bairro PK5 de Bangui, zona comercial da cidade e residencia principal da comunidade islâmica na cidade. Nessa fase do conflito, uma força de paz inter-africana esteve estacionada na RCA, sob a égide da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) apoiada pela França que dispõe de uma base na RCA e até uma mal organizada intervenção sul-africana. A própria França tomou a iniciativa de pedir  criação da força de paz da ONU, incluindo contingentes africanos. Ao mesmo tempo a União Europeia lançou uma unidade de treino para refazer o exército nacional centrafricano. Acreditou-se que um periodo de paz se seguiria com a eleição democrática do Presidente Touadera, porém as milicias politicas continuaram  ativas e surgiram gangs de delito comum. Neste contexto, os antigos componentes da Seleka aparecem como ameaça recorrendo aos seus velhos metodos. Os anti-Balaka têm comportamentos diversos; alguns dos seus grupos funcionam  como simples auto-defesa, outros usam brutalidade e não respeitam os direitos humanos. O exército nacional em reconstituição tem até aqui apenas dois batalhões com um terceiro em formação. Os existentes participam das operações contra grupos armados ilegais, em conjunto com a MINUSCA. Esta sofreu vários ataques e as duas tendências da antiga Seleka consideram-na como inimiga. Os anti-Balaka dizem que não entregam as armas enquanto a Seleka for um risco forte, sendo provável que alguns já se tenham integrado - ou venham  a integrar - no exercito regular em reconstituição.  Os países integrantes da MINUSCA são mencionados no mapa abaixo. O Brasil foi convidado a fazer parte, tendo aceite num primeiro tempo mas depois recusou. Angola apoiou financeiramente o governo de transição antes das eleições.
mapas: Internet (editado por mim) e do "Diário de Noticias" de Lisboa

A próxima postagem desta serie será sobre formas de agressão á mulher nestes conflitos e correspondentes formas de resistência.

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