Notas em rota de viagem pelo sul de Angola
por Monica Vitt Martins (texto em português anterior ao Acordo ortográfico)
05.09.2017 – 4h30 - Madrugada
calma, estradas isoladas, ambiente sereno, assim saimos nós por estas estradas
à descoberta de novos cenários.
Numa condução
cuidada, fomos constatando in loco o estado das vias. De Luanda até a cidade do
Sumbe (Kwanza Sul) deparamo-nos com alguns buracos esporádicos e de fácil
contorno. Já na estrada do Sumbe –Porto Amboim começamos a ver muitos trabalhos
na via, como a remoção do tapete asfáltico em algumas áreas, o que nos obrigava
a fazer desvios por picadas criadas para o efeito. O mesmo cenário encontramos
também na via Porto Amboim até ao Lobito, com trabalhos mais extensos como o
alargamento da via em toda a sua extensão e de ambos os lados. Num trajecto que
é meio tenso de se fazer, devido as estradas serem muito estreitas e ser uma
via frequentada por muitos camiões, podemos dizer que fizemos uma viagem
tranquila, onde a natureza brindou-nos com um tempo bastante ameno, com
motoristas bastantes prudentes e agentes policiais cumprindo o seu trabalho com
zelo. Dois pormenores chamaram-nos atenção: a venda de carne de caça em quase
toda via e o baixo caudal ou mesmo ausência de água nos rios.
Depois de 550 km
percorridos chegamos a Benguela no inicio da tarde e tiramos a tarde para
visitar alguns familiares e um descanso básico para recarregar as baterias para
a longa jornada de Benguela para o Namibe.
06.09.2017- 5h30 - Um
despertar tranquilo mas com bastante adrenalina a circular no corpo, tomamos o
pequeno-almoço e levantamos ferro rumo ao Lubango (Huila). Sendo um trajecto
completamente desconhecido para nós, tudo era novidade, cada curva, cada
buraco, cada montanha de pedra sobre pedra era novidade, o que nos deixava
sempre expectantes no que viria a seguir. A via Benguela – Chongoroi até a cidade de Quilengues (Huila) está
optima. Quilengues cidade bem organizada, limpa, a Administração, o Centro de
Saúde, e até mesmo a Paróquia de Santa Ana erguida em 1856 estão bem
conservadas e cuidadas. Surpreendeu-nos os postes de luz por toda a vila até a
saída de Quilengues – resta saber se acendem kkkkkk.
Chegada a cidade do
Lubango depois de 360 km +/- percorridos, encontramos uma cidade totalmente
diferente desde a última vez que lá estive numa viagem efectuada de avião (+/-
9 anos). Estradas novas, passeios, vias alargadas, jardins e novas estruturas
sociais. As terras da Chela, como é conhecida, está lindissima, desde a cidade
aos seus pontos turistícos – oohhh cidade abençoada com belezas naturais: a
zona da Nossa Senhora do Monte e a sua Capelinha construída em 1902, o
monumento do Cristo Rei edificado em 1957, mas o que mais me deslumbrou e nos
deixou de queixo caído foi o trabalho de restruturação feito na zona turistica
da Tundavala, onde podemos contemplar a vista deslumbrante da famosa Fenda da
Tundavala, todo o trajecto até ao topo está lindo.
Encontramos resorts,
um restaurante numa das montanhas, todo feito em madeira e vidro, com vista
maravilhosa para o vale da Tundavala e as montanhas a volta, e há também um parque de campismo. Todo este
trajecto até ao cimo da montanha foi feito em calçada de pedra passando por um
labirinto lindissimo de rochas - muito
bem estruturado - até darmos a um parque de estacionamento muito bem projectado…
há acessos criados para os diversos miradouros, vi pelo menos 3, todos feitos
em pedras e com bastante segurança para a observação da fenda, sem receios.
Lindo, lindo, lindo
que está esse lugar - conheci este lugar ainda quando a estrada era em terra
batida e sem nenhum tipo de segurança para poder observar as belezas do local- nem fazia a menor ideia de como foi
transformado.
Simplesmente
espectacular. Meus olhos ficaram bastante lubrificados com tanta beleza e
sensações que o local emite. Com extrema vontade de ficar, tive de lutar com o
meu Eu para dar continuidade a nossa viagem rumo ao Namibe – a cidade da
Welwichia Mirabilis.
Chegando a fronteira
da Huila com o Namibe, decidimos fazer uma paragem rápida para um lanchinho
básico no restaurante e miradouro da famosa Serra da Leba. Ooohhh, outra
surpresa maravilhosa! Foi tudo restaurado. Foram criados espaços para
piquinique e lazer junto ao restaurante que há ali e fizeram um miradouro todo
em pedras.
Vocês não têm noção
do sentimento que invade a alma ao respirar aquele ar e sentar naquelas pedras
no topo de um morro, com uma chávena de café quentinho, levar com a brisa
fresquinha no nosso rosto e olhar para a maravilhosa obra que é a Serra da Leba…Ooohh Meu Deus, que lugar, que vista,
que cenário, inigualável…aiiiii (profundo suspiro) – A Serra da Leba com 56
curvas no total, foi criada por vários
engenheiros mas tendo se notabilizado a engenheira portuguesa Maria Alice Leba.
Foi com um grande
esforço que levantamos ferro deste local, já eram 17h e precisavamos entrar na
cidade de Moçamedes (Namibe) antes de escurecer, uma vez que não conheciamos
nada e porque tinhamos alguns familiares à nossa espera. E assim fomos descendo
a Serra da Leba contemplando aquele lugar que parecia intocável do outro lado,
a cada curva ziguezagueando entre o morro, os enrocamentos feitos para suster a
terra e pedras cobertos de pintura em grafitti, a pequena queda de água aí
existente e a maravilhosa vegetação que a circunda. Um cenário que enche a
alma.
Daqui para frente o
cenário muda completamente, de uma zona coberta de vegetação que ficou para
trás, fomos descobrindo e contemplando a planície arenosa. Areia, pedras e
pouquissima vegetação… sentia-se que entramos na província que detém um dos
maiores desertos de África e um dos mais
antigos do mundo com mais 55 milhões de anos – o Deserto do Namibe. Alcançamos
a cidade 1h30 depois e fomos recebidos por familiares bem à moda provinciana
kkkk, o que sabe tão bem depois de viajar de carro +/- 400 km.
07.09.17 – Tiramos o
dia para diversas actividades, uma visita à linda e enorme Academia de Pescas e
Ciências do Mar, fizemos caça submarina pelas límpidas águas da costa do Namibe
e um jantar agradável com familiares.
08.09.17 – Doida por
aventuras e curiosa por novos cenários, saimos da cidade do Namibe de volta a
Benguela pela estrada da Lucira, ou seja, voltamos pelo litoral. Da cidade
passando pelo Bentiaba até ao posto de abastecimento da Pumangol – Lucira, encontramos uma estrada espectacular e um
cenário de montanhas que se perdem de vista entre as nuvens. Chegamos à famosa
estrada da Lucira, famosa porque é uma das vias que há muitos anos que não se
vê a cor do asfalto, só terra batida e era povoada por animais selvagens e
perigosos, como mabecos e hienas, o que faz dela uma via temida por muitos. Num
percurso de quase 100 km, não vimos animais, raramente vimos um povoado,
cruzamos com pouquissimas viaturas, há sinais de reconstrução da via e construção
de pontes, mas não se via viva alma. Por um momento, foi como se nos tivessem
teletransportado para o inferno, literalmente, só não nos sentimos lá porque a
natureza brindou-nos com um céu encoberto e o dia estava fresco kkkkk. O
cenário era completamente castanho, arvóres secas, pedras e mais pedras com
diversos tamanhos e formas, em alguns picadeiros a areia era “pó talco” de tão
fina que era. Ao fim de uns 50 km, a ansiedade de ver asfalto tomava conta de
nós, a cada curva um teste ao nosso espiríto aventureiro, kkkkk. Ao final de
uns tantos km foram aparecendo alguns bois e cabritos, sinal de que havia
aldeias por perto, o que foi servindo de colírio para os nossos olhos. Assim
que chegamos a aldeia do Cimo (Benguela)…Asfaltoooo… genteeee…uuuffff… foi como
se tivessemos saído de um sonho que se estava a transformar em pesadelo, kkkkk.
Não é que seja uma estrada a se evitar, até porque tem acesso a praias
lindissimas e dizem que se faz muito boa pesca por lá e tem sitios maravilhosos
para acampar, mas para quem não conhece e foi contemplando cenários
maravilhosos ao longo da viagem, vendo aquela zona, poderia se dizer que é a
parte agreste (todo aquele castanho) de um lindo quadro paisagistico.
Chegada a cidade das
Acácias Rubras- Benguela, demos como finalizada a nossa aventura pelo Sul de
Angola, uma vez que o trajecto de Benguela para Luanda já o fizemos várias
vezes. Uma aventura cheia de adrenalina que fizemos em 5 dias, tempo que
gostariamos de ter estendido mais para a descoberta de novos lugares, mas o
trabalho não espera kkkkk.
O bichinho
aventureiro já está aqui a cuscar para onde será o próximo roteiro por essa
Angola linda, maravilhosa e cheia de recantos espectaculares, que precisam de
ser descobertos, explorados e reportados.
Até a próxima
aventura!
Obrigado Monica. Até à próxima.
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