domingo, 22 de novembro de 2015

Má fé ou desprezo pelo papel das classes sociais via Cambridge University Press

No livro  "An African Slaving Port and the Atlantic World: Benguela and hits Hinterland" (2013,Cambridge U.P. - New York,) Mariana P. Candido cita uma entrevista que dei á Voz da América a propósito do lançamento do meu livro "A Economia ao longo da História de Angola", dizendo que minimizo o papel dos portugueses no trafico de escravos. Falso. Esta entrevista é de novembro de 2011 e  continua disponível no site daquela rádio com o link:http://www.voaportugues.com/content/article-11-10-2011-aangolaeconomichistory-voanews-133632303/1261578.html
 D. Mariana P. Candido não ouviu bem a entrevista, na qual fica claro que defendo a tese da aliança das classes mercantilistas europeias com lideranças locais  africanas para a captura de escravos no continente africano. Isto não minimiza a responsabilidade de ninguém mas também não desculpa ninguém. Recorro a exemplos angolanos - que conheço muito bem - para apoiar a tese do historiador maliano Tidiane Diakhité sobre participação africana no trafico, no seu livro "La traite des noirs et ses acteurs africains" que cito no meu.
Infelizmente D. Mariana P. Candido não leu o meu livro (nem talvez o de T.Diakhité) e digo isto porque na citação ela escreve que "A economia ao longo da História de Angola" foi editado pela União dos Escritores Angolanos, o que é falso. O nome da editora Mayamba está de caras na primeira pagina e em paginas interiores. Não leu  e não gostou.
Mas é bom sinal ser atacado por certas áreas. Significa que o livro incomodou quem eu queria incomodar. "A economia ao longo da História de Angola", publicado em 2011, também foi alvo de considerações azedas por parte de escolas conservadoras portuguesas, acho que sobretudo devido ao capitulo sobre ultra colonialismo.
O historiador senegalês Ibrahima Thioub e o escritor congolês Alain Mabanckou  têm visão semelhante à de Diakhité, inclusive por estarem preocupados com responsabilidades opressivas atuais em vários países africanos e querem acabar com tabus. "É por isso que devemos ter a coragem de dizer que os Africanos têm responsabilidade no tráfico, mesmo quando europeus de má fé exploram esse discurso. Porque é a única forma de construir o renascimento africano", disse Thioub em entrevista a site do movimento francês de extrema esquerda "Front de Gauche" (link : www.gauchemip.org/spip.php?article6754)
 A D. Mariana P. Candido leciona nos USA (não sei em que universidade atualmente porque muda com frequência, até mandei email numa boa a uma delas) onde pode ter acesso a múltiplas posições idênticas ás nossas, inclusive de Alain Mabanckou que lá leciona também. É claro, caso ela atribua valor ás lutas de classe e ás alianças de classe e esteja preocupa em acabar com tabus mantidos por ditaduras.

Um comentário:

  1. Não sei quem pode imaginar que o trafico de escravos não tenha sido produto de alianlçasentre traficantes europeus e africanos. Há muita literatura sobre isso Randy Sparks professor na Universidade de Tulane tem um excelente livro sobre esse comercio no que é hoje o Gana. O livro é titulado "Where the Negroes are Masters" e detalha a hierarquia e monopolios que existiam ente os comerciantes de escravos africanos nas suas relações com os traficantes europeus. Tudo bem condificado e estruturado com as suas leis respeitadas por todos. E quando violadas julgadas em "palaver" (do portugues "palavra") Fascinante.

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