Da
apresentação do livro por Gustavo Costa no dia do lançamento (12/03/2015)
(...) ao mergulhar nas
raízes das histórias trilhadas nas cento e noventa e oito páginas daquilo que
pode ser já o maior espólio documental reunido até hoje à volta da nossa
narrativa independentista, não pude resistir à amplitude de uma utopia que se
consagrou na nossa maior saga: a conquista da Independência!
Não resisti também ao
pioneirismo de um trabalho de investigação de uma envergadura ímpar, que tem o
DNA de um nacionalista cuja grandeza se confunde com a epopeia de milhares de
angolanos que, naquele tempo, há mais de cinquenta anos, cada um à sua maneira,
deram o melhor de si para abrirem os caboucos do nosso edifício pátrio.
Por essa razão, as
fotografias, os vídeos e as gravações, mais do que o acervo e o legado do
nacionalista Lúcio Lara, são a expressão do grito de alma de uma imensa geração
depositária dos mais nobres valores do nosso moderno nacionalismo.
(...)
Esta é uma obra que não
foi gerada por nenhuma universidade, nem recebeu o concurso de nenhuma consultora estrangeira, como agora,
exageradamente, virou moda.
Também não foi escrita
por nenhum jornalista insigne, que quase já não os há, nem por jovens engravatados
que, falando de cátedra, da história têm a mesma vaga noção que alguns dos
nossos novos ricos têm da pobreza...
Estamos perante uma arma
poderosa, que resistiu a todas as tentativas de rasura da história da
Independência e mesmo a certas correntes negacionistas, que gostariam de ver
triunfada aqui uma narração “descafeinada”.
(...)
A Associação Tchiweka
preferiu a Nação e decidiu memorizar um pedaço chave da nossa história cuja riqueza
assenta na sua transversalidade.
Nele estão projectados
depoimentos e fotos memoráveis de patriotas
angolanos, de outros combatentes africanos anti-colonialistas e também de
anti-fascistas portugueses, que decidiram solidarizar-se com a causa angolana.
Não há aqui, nesta obra, angolanos
da UPA, da FNLA, do MPLA, da Revolta Activa, da Revolta do Leste ou da UNITA.
Há aqui apenas angolanos! Estamos aqui, porventura, perante a viagem documental
de maior fôlego nacionalista, que carrega o mérito de estar despida de estreitismos partidários ou de preconceitos
de natureza étnica, tribal, racial ou religiosa.
Estamos perante um hino à
reconciliação, escrito com poemas que afastam
a exclusão e procuram antes irmanar passados com percursos diferentes mas todos
eles trilhando o mesmo espírito.
(...)
A leitura desta obra gera
emoções e obriga-nos a reviver a chama do protesto que galvanizou milhares de
nacionalistas de diferentes matizes políticas que, enjaulados pela PIDE, na
luta clandestina ou empunhando armas nas matas, lançaram as sementes da inesquecível
gesta da libertação de Angola das grilhetas do ocupante português.
Comprometidas apenas com
a história, queiram as novas gerações ler esta obra, que ajudará a compreender o
passado e a iluminar o futuro, através do que a Associação Tchiweka qualificou
como “folhas arquivadas, que não serão mortas, antes renovadamente
ressuscitadas”.
Por isso é que esta é
daquelas obras que deveria figurar nos escaparates das nossas livrarias e nas
galerias das bibliotecas dos nossos estabelecimentos de ensino público e
privado.
Porque partiu da ideia do
resgate da história, da ideia da liberdade de pensar, de fazer, de ser e de ver
a história sem complexos e sem zonas de sombra ou de escuridão.
(...)
Por isso é que esta vasta
compilação escrita, documental, iconográfica e testemunhal, feita em tempo oportuno, desafia a isenção e a
liberdade dos historiadores para que persigam a investigação agora iniciada pela Associação
Tchiweka.
E, porque é que os
historiadores são chamados a enfrentar este desafio?
Para que as novas
gerações saibam que houve um antes e um depois. Para que a geração 80
interiorize que o passado aconteceu e não pode “desacontecer”.
Para que a geração
Google, aquela que tem tudo ao toque do teclado, que sabe quase tudo a respeito
dos outros, não diga nunca, por nunca, que nunca ouviu falar dos horrores do
colonialismo e da resistência anti-colonial protagonizada por milhares de
heróis anónimos.
O tamanho do discurso do Gustavo ( e a postagem de fotos) não permitiu inseri-lo na íntegra. Mas se alguém quiser é só pedir, eu envio.
As fotos são do Kamene Traça e Antonio Estrelinha respectivamente. Agradeço à Wanda da ATD pelo envio.
Hoje comemora-se o 54° aniversário do inicio da insurreição camponesa do norte de Angola. Sobre o tema redigi há anos uma dissertação de final de curso na EHESS de Paris. Está em francês e tambem à disposição de pessoas eventualmente interessadas
As fotos são do Kamene Traça e Antonio Estrelinha respectivamente. Agradeço à Wanda da ATD pelo envio.
Hoje comemora-se o 54° aniversário do inicio da insurreição camponesa do norte de Angola. Sobre o tema redigi há anos uma dissertação de final de curso na EHESS de Paris. Está em francês e tambem à disposição de pessoas eventualmente interessadas
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