domingo, 15 de março de 2015

Sobre o lançamento em Luanda do "1961 -Memória de um ano decisivo"



              Da apresentação do livro por Gustavo Costa no dia do lançamento (12/03/2015)

(...) ao mergulhar nas raízes das histórias trilhadas nas cento e noventa e oito páginas daquilo que pode ser já o maior espólio documental reunido até hoje à volta da nossa narrativa independentista, não pude resistir à amplitude de uma utopia que se consagrou na nossa maior saga: a conquista da Independência!
Não resisti também ao pioneirismo de um trabalho de investigação de uma envergadura ímpar, que tem o DNA de um nacionalista cuja grandeza se confunde com a epopeia de milhares de angolanos que, naquele tempo, há mais de cinquenta anos, cada um à sua maneira, deram o melhor de si para abrirem os caboucos do nosso edifício pátrio.
Por essa razão, as fotografias, os vídeos e as gravações, mais do que o acervo e o legado do nacionalista Lúcio Lara, são a expressão do grito de alma de uma imensa geração depositária dos mais nobres valores do nosso moderno nacionalismo.
(...)
Esta é uma obra que não foi gerada por nenhuma universidade, nem recebeu o concurso de nenhuma  consultora estrangeira, como agora, exageradamente, virou moda.
Também não foi escrita por nenhum jornalista insigne, que quase já não os há, nem por jovens engravatados que, falando de cátedra, da história têm a mesma vaga noção que alguns dos nossos novos ricos têm da pobreza...
Estamos perante uma arma poderosa, que resistiu a todas as tentativas de rasura da história da Independência e mesmo a certas correntes negacionistas, que gostariam de ver triunfada aqui uma narração “descafeinada”.
(...)
A Associação Tchiweka preferiu a Nação e decidiu memorizar um pedaço chave da nossa história cuja riqueza assenta na sua transversalidade.
Nele estão projectados depoimentos e  fotos memoráveis de patriotas angolanos, de outros combatentes africanos anti-colonialistas e também de anti-fascistas portugueses, que decidiram solidarizar-se com  a causa angolana.
Não há aqui, nesta obra, angolanos da UPA, da FNLA, do MPLA, da Revolta Activa, da Revolta do Leste ou da UNITA. Há aqui apenas angolanos! Estamos aqui, porventura, perante a viagem documental de maior fôlego nacionalista, que carrega o mérito de estar despida de  estreitismos partidários ou de preconceitos de natureza étnica, tribal, racial ou religiosa.
Estamos perante um hino à reconciliação, escrito com poemas  que afastam a exclusão e procuram antes irmanar passados com percursos diferentes mas todos eles trilhando o mesmo espírito.
(...)
A leitura desta obra gera emoções e obriga-nos a reviver a chama do protesto que galvanizou milhares de nacionalistas de diferentes matizes políticas que, enjaulados pela PIDE, na luta clandestina ou empunhando armas nas matas, lançaram as sementes da inesquecível gesta da libertação de Angola das grilhetas do ocupante português.
Comprometidas apenas com a história, queiram as novas gerações ler esta obra, que ajudará a compreender o passado e a iluminar o futuro, através do que a Associação Tchiweka qualificou como “folhas arquivadas, que não serão mortas, antes renovadamente ressuscitadas”.
Por isso é que esta é daquelas obras que deveria figurar nos escaparates das nossas livrarias e nas galerias das bibliotecas dos nossos estabelecimentos de ensino público e privado.
Porque partiu da ideia do resgate da história, da ideia da liberdade de pensar, de fazer, de ser e de ver a história sem complexos e sem zonas de sombra ou de escuridão.
(...)  
Por isso é que esta vasta compilação escrita, documental, iconográfica e testemunhal,  feita em tempo oportuno, desafia a isenção e a liberdade dos historiadores para que  persigam a investigação agora iniciada pela Associação Tchiweka.
E, porque é que os historiadores são chamados a enfrentar este desafio?
Para que as novas gerações saibam que houve um antes e um depois. Para que a geração 80 interiorize que o passado aconteceu e não pode “desacontecer”.
Para que a geração Google, aquela que tem tudo ao toque do teclado, que sabe quase tudo a respeito dos outros, não diga nunca, por nunca, que nunca ouviu falar dos horrores do colonialismo e da resistência anti-colonial protagonizada por milhares de heróis anónimos.

O tamanho do discurso do Gustavo ( e a postagem de fotos) não permitiu inseri-lo na íntegra. Mas se alguém quiser é só pedir, eu envio.

                                    As fotos  são do Kamene Traça  e Antonio Estrelinha respectivamente.                                                               Agradeço à Wanda da ATD pelo envio.

Hoje comemora-se o 54° aniversário do inicio da insurreição camponesa do norte de Angola. Sobre o tema redigi há anos uma dissertação de final de curso na EHESS de Paris. Está em francês e tambem à disposição de pessoas eventualmente interessadas



Nenhum comentário:

Postar um comentário