Os racistas tradicionais ficam muito felizes com estas aparições vocalizadas - uma camarada dos tempos da luta pela descolonização de Angola dizia "salivadas" - por teóricos/as do diferencialismo. Quer dizer, aqueles/as que buscam obsessivamente as pequenas coisas que nos diferenciam, enquanto nós afirmamos as muitas que nos fazem semelhantes, com os mesmos direitos e obrigações.
Já tive a ocasião de escrever como o exacerbar identitário nos leva ao paroxismo da violência (em "Relato de Guerra Extrema"- edição angolana pela Mayamba; edição brasileira pela Garamond)) mas agora escrevo a propósito do V Seminário sobre Línguas Africanas (SIALA) organizado na UNEB, Salvador.
Nenhuma crítica aos organizadores, a quem não cabem responsabilidades pelas afirmações no encontro. e, apesar, de estar muito longe dessa disciplina, fiquei feliz de ter sido convidado e ter apresentado em ritmo de corrida de 100 metros o tema que me pediram (sobre as relações Brasil-Angola).
Nenhuma crítica aos organizadores, a quem não cabem responsabilidades pelas afirmações no encontro. e, apesar, de estar muito longe dessa disciplina, fiquei feliz de ter sido convidado e ter apresentado em ritmo de corrida de 100 metros o tema que me pediram (sobre as relações Brasil-Angola).
Foi nesse ritmo porque a mesa redonda respectiva começou com muito atraso e os 3 palestrantes (ver foto nesta postagem) tiveram de se auto-limitar, não havendo sequer espaço para debate.
Depois disso aproveitei para assistir a outras duas mesas redondas, ambas sobre literatura e foi nelas que choquei com a tal obsessão das identidades e o consequente diferencialismo. Nesse quadro houve quem fizesse mesmo uma hierarquia com base em detalhes (tirados de poesias) pretensamente criadores de identidades e até de legitimidades. Detalhes ridículos se comparados com outros elementos e sacrifícios, baseados no combate com risco de vida e no posicionamento frontal contra inimigos poderosos.
Os ultra identitários/as nunca estiveram nesses combates. Como falamos de literatura, cito Alexis Jenni: "na vida de vocês não há nada que tenha podido servir de forja". Nada! Só postura declaratória, destinada a criar isolamentos, guetos e espaços restritos de exibição e carreira.
Fiz duas perguntas, com premissas opostas ao diferencialismo e aos racismos (tal como Hamilton T. Ford também acho que são vários), e recebi uma espiral de frases sem resposta concreta. O ultra identitário não tem respostas, tem dogmas autistas, eu já sabia. As perguntas destinavam-se a marcar posição perante o impasse racista no Brasil, que só será quebrado quando ligarmos o combate antirracista aos outros combates contra as opressões, dominações e atrasos.
Sobre África em si, notei uma tendência para olharem África através do periodo colonial e seus símbolos, inclusive assimilando a sistemas políticos europeus as formas de poder existentes no continente africano antes da chegada desses mesmos europeus. África atual, seus problemas e pensadores foram largamente esquecidos. Intelectuais como Achille Mbembe ou Axel Kabou são simplesmente desconhecidos e a referência a Kwame A. Appiah foi de 3 ou 4 segundos e nem sequer uma palavra sobre seu livro"Cosmopolitismo", eixo central da sua trajetória. Se conhecessem Mbembe iriam ver algo parecido, designado por afropolitanismo, formulação nos antípodas dos ultra-identitários.
Gostei de participar no V SIALA. Para quem trabalha com economia e relações internacionais foi uma novidade. E gostei a ponto de, ao regressar, fazer esta postagem. O debate continua aberto.
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