sábado, 22 de junho de 2024

Etnonacionalismo

 


Michel Agier, professor na "minha" inesquecível EHESS de Paris, é um dos mais relevantes antropólogos europeus, nas temáticas que aborda e na metodologia atualizada que adota. Li hoje um pequeno artigo dele no " Libération " batendo de frente com a expressão " imigracionismo", pejorativa sobre os imigrantes, usada pelo presidente Macron para desqualificar o programa da esquerda. Agier aponta a posição do chefe de estado francês como etnonacionalismo.

Na verdade, o etnonacionalismo é praticado na Europa regularmente desde a Antiguidade e gera um dado terrível: há sempre algum poder europeu agredindo um ou mais vizinhos.

Viking, gregos, romanos se expandiram assim. Entre França e Inglaterra  houve uma guerra de cem anos. Mais tarde, a França nspoleonica tentou tomar a Europa toda, começando pelos mais próximos. 

A Rússia foi criada como os USA: um pequeno território inicial que massacra vizinhos e lhes ocupa o espaço. 

Até na pequena Península Ibérica as guerras luso-espanholas foram marca principal da História, entre os séculos XII e XIX.

Só estou falando de guerras intra-europeias, deixando aqui de lado as agressões coloniais. 

Aquilo era de tal forma que em 1648 realizaram a conferência de Westfalia para tentar diminuir os ódios.  Estavam presentes cerca de 150 delegações. Pelo número é óbvio o perfil étnico ( ou mesmo tribal) de várias. 

No século XX causaram duas guerras mundiais, com a Alemanha em alto protagonismo e, no final desse século, uma sequência de conflitos nos Balcãs e arredores, na mesma linha de etnicidade.

Hoje, um dos dois maiores conflitos de efeito internacional está na Ucrânia, um vizinho poderoso entra na brutalidade em casa de outro.

Não digo que outras regiões do planeta não sofram da mesma truculência e tenham motivos para desconfiar de vizinhos politicamente obesos. Sublinho a Europa, onde também nasceram princípios radicalmente opostos a esses comportamentos, porque o etnonacionalismo está de novo em alta, perigo claro e imediato para o mundo. 

Um comentário:

  1. Nossa! Sim, infelizmente.
    E não vem como uma onda tímida que perde força na travessia...
    O etnonacionalismo está se informando nas ações cotidianas, infiltrando-se nas dobras do discurso.

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