quarta-feira, 19 de junho de 2024

Ameaças racificadas e sociedade não-racial

 Em matéria de conflitos baseados na raça, a África do Sul é sempre, por razões históricas, um grande exemplo. Em dois sentidos antagônicos: a discriminação e a aproximação. O apartheid foi um sistema de discriminação brutal, Mandela e militantes antirracistas lutaram pela aproximação  e construção de sociedade não-racial.

Hoje,  inicia seu segundo mandato o Presidente Cyril Ramaphosa, eleito por uma coligação de partidos, sendo principais o ANC e a AD. As maiores diferenças entre estes dois partidos são: 

o primeiro tem estado  no poder desde 1994 e o segundo na oposição durante o mesmo período ;

o ANC é de origem socialista, incluindo forte influência do partido comunista, e a AD é liberal.

Porém, não são estes os pontos mais acentuadas nas referências,de políticos e da grande mídia, ao acordo que elegeu CR e vai conduzir ao Governo de Unidade Nacional. O foco principal, tanto de apoiantes como adversários do acordo é que o ANC é de composição largamente negra e a AD tem grande número de brancos na sua liderança e eleitorado. 

Quer dizer, a cor aparece como visualização principal. 

Dois partidos populistas negros acusam o ANC de se submeter a um "partido de brancos". Os racistas brancos acusam a AD de "trair os brancos" juntando-se ao ANC.

A carta da raça é, portanto, usada como argumento maior. Não é só na África do Sul que isto ocorre. A extrema-direita na Europa faz o mesmo uso racista, sob o habitual disfarce do identitarismo, constituindo hoje poderosa ameaça à democracia. Ao mesmo tempo, em várias partes do Mundo, incluindo o Brasil, têm surgido afro-convenientes, pessoas que mudam de raça consoante suas conveniências ( eleitorais, fashion, marketing,etc).

Ramaphosa nos seus discursos sublinha explicitamente que pretende uma África do Sul não-racial, definição válida para todos os países onde foram impostas fraturas racistas. 

A democracia só pode ser não-racial. 

Além deste ponto capital, o novo Governo sul-africano tem a gigantesca tarefa de harmonizar posições socialistas e liberais. Se conseguir será grande novidade mundial.


Na cerimônia de abertura da Assembleia Nacional da África do Sul, trocam sorrisos o Presidente Ramaphosa e os líderes da AD , John Steenhuissen e Siviwe Gwarube

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