sexta-feira, 28 de junho de 2024

Eleições e capacidades

 



O debate Biden-Trump demonstrou um ponto relevante: os valores e princípios dos candidatos podem importar menos para a maioria do eleitorado, que  sua capacidade. Neste caso, capacidade física. 

Não é de subestimar este dado, porém, eu acrescento a capacidade intelectual e técnica como condição essencial para ocupar um cargo que influi na vida de toda a sociedade. Sem fazer etarismo. Qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país, tem de demonstrar competência, energia, honestidade e sentido de convivência, para exercício de funções governativas. Do poder local ao nacional.

A noção de capacidade tem esses quatro  lados. Pelo menos.



quinta-feira, 27 de junho de 2024

Adélia Prado

A escritora mineira de 88 anos, ganhou o prêmio Camões deste ano, por razões simplesmente literárias.  Digo isto porque várias vezes senti a atribuição deste prêmio por fatores geopolíticos. 
Adélia já tinha conquistado, no Brasil, o Jabuti e o Machado de Assis. 


domingo, 23 de junho de 2024

Copa América

 Até aqui constato boas exibições da Argentina contra um Canadá em progresso e dos EUA face a uma Bolívia fraquinha. México-Jamaica e Equador_Venezuela fizeram partidas equilibradas.

Aguardo a entrada em campo do Uruguai e, claro, do Brasil. 



sábado, 22 de junho de 2024

Etnonacionalismo

 


Michel Agier, professor na "minha" inesquecível EHESS de Paris, é um dos mais relevantes antropólogos europeus, nas temáticas que aborda e na metodologia atualizada que adota. Li hoje um pequeno artigo dele no " Libération " batendo de frente com a expressão " imigracionismo", pejorativa sobre os imigrantes, usada pelo presidente Macron para desqualificar o programa da esquerda. Agier aponta a posição do chefe de estado francês como etnonacionalismo.

Na verdade, o etnonacionalismo é praticado na Europa regularmente desde a Antiguidade e gera um dado terrível: há sempre algum poder europeu agredindo um ou mais vizinhos.

Viking, gregos, romanos se expandiram assim. Entre França e Inglaterra  houve uma guerra de cem anos. Mais tarde, a França nspoleonica tentou tomar a Europa toda, começando pelos mais próximos. 

A Rússia foi criada como os USA: um pequeno território inicial que massacra vizinhos e lhes ocupa o espaço. 

Até na pequena Península Ibérica as guerras luso-espanholas foram marca principal da História, entre os séculos XII e XIX.

Só estou falando de guerras intra-europeias, deixando aqui de lado as agressões coloniais. 

Aquilo era de tal forma que em 1648 realizaram a conferência de Westfalia para tentar diminuir os ódios.  Estavam presentes cerca de 150 delegações. Pelo número é óbvio o perfil étnico ( ou mesmo tribal) de várias. 

No século XX causaram duas guerras mundiais, com a Alemanha em alto protagonismo e, no final desse século, uma sequência de conflitos nos Balcãs e arredores, na mesma linha de etnicidade.

Hoje, um dos dois maiores conflitos de efeito internacional está na Ucrânia, um vizinho poderoso entra na brutalidade em casa de outro.

Não digo que outras regiões do planeta não sofram da mesma truculência e tenham motivos para desconfiar de vizinhos politicamente obesos. Sublinho a Europa, onde também nasceram princípios radicalmente opostos a esses comportamentos, porque o etnonacionalismo está de novo em alta, perigo claro e imediato para o mundo. 

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Ameaças racificadas e sociedade não-racial

 Em matéria de conflitos baseados na raça, a África do Sul é sempre, por razões históricas, um grande exemplo. Em dois sentidos antagônicos: a discriminação e a aproximação. O apartheid foi um sistema de discriminação brutal, Mandela e militantes antirracistas lutaram pela aproximação  e construção de sociedade não-racial.

Hoje,  inicia seu segundo mandato o Presidente Cyril Ramaphosa, eleito por uma coligação de partidos, sendo principais o ANC e a AD. As maiores diferenças entre estes dois partidos são: 

o primeiro tem estado  no poder desde 1994 e o segundo na oposição durante o mesmo período ;

o ANC é de origem socialista, incluindo forte influência do partido comunista, e a AD é liberal.

Porém, não são estes os pontos mais acentuadas nas referências,de políticos e da grande mídia, ao acordo que elegeu CR e vai conduzir ao Governo de Unidade Nacional. O foco principal, tanto de apoiantes como adversários do acordo é que o ANC é de composição largamente negra e a AD tem grande número de brancos na sua liderança e eleitorado. 

Quer dizer, a cor aparece como visualização principal. 

Dois partidos populistas negros acusam o ANC de se submeter a um "partido de brancos". Os racistas brancos acusam a AD de "trair os brancos" juntando-se ao ANC.

A carta da raça é, portanto, usada como argumento maior. Não é só na África do Sul que isto ocorre. A extrema-direita na Europa faz o mesmo uso racista, sob o habitual disfarce do identitarismo, constituindo hoje poderosa ameaça à democracia. Ao mesmo tempo, em várias partes do Mundo, incluindo o Brasil, têm surgido afro-convenientes, pessoas que mudam de raça consoante suas conveniências ( eleitorais, fashion, marketing,etc).

Ramaphosa nos seus discursos sublinha explicitamente que pretende uma África do Sul não-racial, definição válida para todos os países onde foram impostas fraturas racistas. 

A democracia só pode ser não-racial. 

Além deste ponto capital, o novo Governo sul-africano tem a gigantesca tarefa de harmonizar posições socialistas e liberais. Se conseguir será grande novidade mundial.


Na cerimônia de abertura da Assembleia Nacional da África do Sul, trocam sorrisos o Presidente Ramaphosa e os líderes da AD , John Steenhuissen e Siviwe Gwarube

domingo, 9 de junho de 2024

Brasil vence com dificuldade

 Amistoso no Texas: Brasil 3 México 2

A seleção brasileira entrou com apenas um titular ( o goleiro Alissom) para testar novos jogadores. Chegou a fazer 2 a 0, mas o México reagiu e empatou. Nos minutos finais entraram alguns titulares e dois deles estiveram na jogada que deu a vitória ao Brasil, já no minuto 50. Vini Jr. fez excelente passe e Endrick finalizou de cabeça. 



Faleceu grande economista

 Maria da Conceição Tavares, brasileira nascida em Portugal, onde se formou em Matemática, veio para o Brasil onde se tornou uma das mais notadas economistas latino-americanas.

Tive aulas com ela durante no doutorado.




quarta-feira, 5 de junho de 2024

Novo Livro de meu amigo Jacques

 Jacques D' Adesky assinou autógrafos, hoje aqui em Niterói, no seu recém lançado " O exílio de um rei", com prefácio de Gilberto Gil. Foi na Blooks, junto à reitoria da UFF, em Icaraí. 

Ganhei o primeiro desses autógrafos:


E a capa do livro é essa:



sábado, 1 de junho de 2024

ANC perde maioria na Africa do Sul

 O partido governamental sul-africano desde 1994 ficou na faixa dos 40%, perda enorme se comparado com as eleições daquela data, quando obteve em torno de 65%. Gradualmente foi perdendo votos com aumento das abstenções.  Desta vez perdeu para formações criadas por seus dissidentes.

Obteve um total da ordem dos 6,347 milhões, portanto, os referidos 40% de votos expressos, porém, contando os cerca de 10 milhões de abstencionistas e olhando todo o eleitorado ( 27 milhões), fica com apoio efetivo da ordem dos 25%.

Este cálculo já tinha sido feito, como previsão, há mais de dez anos, pelo Instituto Sul Africano de Relações Raciais ( SAIRR), com base no desempenho socioeconômico do governo e no crescente abstencionismo. 

Perante estes resultados, os sete dirigentes principais do ANC estão reunidos para elaborar proposta ao Comitê Executivo Nacional, que deve inserir linhas de negociação indispensáveis à eleição do Presidente pelo novo Parlamento e, em seguida, formula de governo. 

                       Seven top do ANC

Dois partidos com bancadas parlamentares já deram sinais de estarem dispostos a colaborar com o ANC. Julius Malema, líder do EFF  e ex líder da Juventude do ANC, declarou que é mais fácil trabalhar com seu antigo partido quando ele é derrotado " porque se torna mais humilde ".

Gayton Mckenzie, empresario bem sucedido, pregador e presidente da Aliança Patriotica ( PA), com especial implantação na província do Cabo Ocidental, diz que trabalha com qualquer um, mas lançou ataque cerrado à Aliança Democrática ( DA), principal partido oposicionista no Parlamento e  governo no Cabo Ocidental.

Mckenzie disse mesmo desejar que seu adjunto na PA, Kenny Kunene, também empresario e pregador, seja o próximo ministro do Interior.

O apoio do EFF e PA ao ANC, garantiria  maioria parlamentar, mas pode ter alto custo político e, sobretudo, econômico, devido à imagem daqueles dois partidos, no mercado e em  percentual significativo da sociedade. 

A DA também se dispõe a compor com o ANC, mas rejeita qualquer presença do EFF e do MKP, dirigido pelo ex Presidente Zuma, no poder.

A DA tem origem nos antigos PFP e DP - oposição liberal branca ao apartheid - e segue uma linha de liberalismo econômico. Essa linha e suas origens raciais, causam rejeição na maior parte dos militantes do ANC. No entanto, possui grande apoio na população mestiça ( coloured, na designação oficial sul-africana) que representa 8,9 % do total, portanto da ordem dos 5 milhões, um pouco acima da população branca atual.

A DA é a formação mais forte do grupo Carta Multipartidaria, agrupamento de 5 partidos com assento parlamentar e outros extra-parlamrntares. 

Assembleia de signatários da Carta Multipartidaria


Este bloco vai pesar no tipo de governo das estratégicas províncias do Gauteng (onde se situa  Joanesburgo) e Kwazulu-Natal ( KZN).

Nesta,  o recém formado MKP, de Jacob Zuma, obteve  vitória sem maioria absoluta. Zuma, dirige o partido, mas não pode ser eleito deputado, em virtude de condenação judicial ainda não totalmente cumprida. Não é caso único, de líder político na África do Sul com problemas judiciais. Tal como  ele, estiveram presos, sob acusação de delitos financeiros, os dois mencionados dirigentes da PA. Mas ambos já cumpriram a pena.

A reaproximação do MKP do ANC, implicaria perdão presidencial sobre a condenação de Zuma e indicação de personalidade de seu partido para primeiro ministro provincial no KZN.

Assim, todas as hipóteses estão abertas, num momento em que os imperativos econômicos e sociais se acumulam: desemprego acima de 30%, inflação de 4,5% e previsão de crescimento este ano em volta de 1%.

A África do Sul faz parte do G 20, BRICS e diversas entidades africanas.