quinta-feira, 15 de junho de 2023

Corrida à mediação

 

A Missão de Paz Africana reduziu sua ambição para Tentativa de mediação.  Tem ponto de encontro na Polônia, seguindo amanhã, sexta-feira, para Kiev e sábado para São Petersburgo. Viagem preparada pela Fundação Brazzaville, de base público-privada  franco-africana, influente no continente e boas relações com dirigentes das partes em conflito, ganhou interesse na União Africana. 

Inicialmente prevista para sete  Chefes de Estado, apenas quatro vão viajar: o das Comores, na qualidade de Presidente da U.A. e os do Senegal, Zâmbia e África do Sul. Egito, Uganda e Congo-Brazzaville só enviam ministros.

No caso congolês, um assessor da Presidência declarou discretamente que a situação militar se degradou e  não há clima de diálogo. 

Esta constatação é crucial nos processos de mediação e resolução de conflitos, sendo África terreno de vasta experiência recente na matéria. 

Enquanto os beligerantes quiserem melhorar seu posicionamento no campo de batalha, a negociação só terá lugar depois de ambos terem esgotado essa via. A não ser que sejam fracos e os mais fortes do mundo exterior possam impor-lhes o fim das hostilidades. Não é o caso da guerra na Ucrânia. 

Apresentar-se muito cedo, sem ter feito leitura completa do quadro bélico, querendo mediar, acaba desgastando e dando a impressão de pretender protagonismo.

Saber o momento exato para propor acordos é requisito essencial.

A afirmação do assessor congolês tem, por isso, sentido. Mas a viagem estava tão falada que pelo menos uns mínimos teriam de ser feitos.

Além desta iniciativa Africana, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e Brasil colocaram-se em posição mediadora, quer tenham ou não designado assim suas iniciativas. 

No caso do Brasil também foi iniciativa muito apressada. Seria mais adequado estudar a evolução do contexto militar e da receptividade de outras movimentações diplomáticas, antes de avançar propostas.  A ação na ONU é suficiente nesta fase.

A preocupação de manter neutralidade a qualquer preço e a todos os níveis também não ajuda a conquistar perfil útil. Isto vem a propósito da divisão na delegação brasileira no voto sobre liberdade de sindicalistas da Bielorrússia, em plena Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este tipo de neutralidade ou abstencionismo é visto como medo, até pelos beneficiários .

Mais eficaz pode ser a ação brasileira para reativar a Organização Mundial do Comércio ( OMC), onde está todo o mundo. Aí é possível equacionar o quadro ucraniano à luz da Carta da ONU e da economia mundial.

Como potência agroalimentar com capacidade de expansão, o Brasil tem aqui argumentos fortes que naturalmente chamarão o país a desempenhar um papel nesta redistribuição mundial de cartas.

Entretanto, o importante é  observar bem o teatro de operações e as altas tecnologias utilizadas, manter os canais diplomáticos habituais com as partes beligerantes e trocar opiniões com quem tenha estado em iniciativas políticas  de exploração de terreno.

Como esta tentativa simbolica de mediação Africana.

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