A Missão de Paz Africana reduziu sua ambição para Tentativa de mediação. Tem ponto de encontro na Polônia, seguindo amanhã, sexta-feira, para Kiev e sábado para São Petersburgo. Viagem preparada pela Fundação Brazzaville, de base público-privada franco-africana, influente no continente e boas relações com dirigentes das partes em conflito, ganhou interesse na União Africana.
Inicialmente prevista para sete Chefes de Estado, apenas quatro vão viajar: o das Comores, na qualidade de Presidente da U.A. e os do Senegal, Zâmbia e África do Sul. Egito, Uganda e Congo-Brazzaville só enviam ministros.
No caso congolês, um assessor da Presidência declarou discretamente que a situação militar se degradou e não há clima de diálogo.
Esta constatação é crucial nos processos de mediação e resolução de conflitos, sendo África terreno de vasta experiência recente na matéria.
Enquanto os beligerantes quiserem melhorar seu posicionamento no campo de batalha, a negociação só terá lugar depois de ambos terem esgotado essa via. A não ser que sejam fracos e os mais fortes do mundo exterior possam impor-lhes o fim das hostilidades. Não é o caso da guerra na Ucrânia.
Apresentar-se muito cedo, sem ter feito leitura completa do quadro bélico, querendo mediar, acaba desgastando e dando a impressão de pretender protagonismo.
Saber o momento exato para propor acordos é requisito essencial.
A afirmação do assessor congolês tem, por isso, sentido. Mas a viagem estava tão falada que pelo menos uns mínimos teriam de ser feitos.
Além desta iniciativa Africana, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e Brasil colocaram-se em posição mediadora, quer tenham ou não designado assim suas iniciativas.
No caso do Brasil também foi iniciativa muito apressada. Seria mais adequado estudar a evolução do contexto militar e da receptividade de outras movimentações diplomáticas, antes de avançar propostas. A ação na ONU é suficiente nesta fase.
A preocupação de manter neutralidade a qualquer preço e a todos os níveis também não ajuda a conquistar perfil útil. Isto vem a propósito da divisão na delegação brasileira no voto sobre liberdade de sindicalistas da Bielorrússia, em plena Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este tipo de neutralidade ou abstencionismo é visto como medo, até pelos beneficiários .
Mais eficaz pode ser a ação brasileira para reativar a Organização Mundial do Comércio ( OMC), onde está todo o mundo. Aí é possível equacionar o quadro ucraniano à luz da Carta da ONU e da economia mundial.
Como potência agroalimentar com capacidade de expansão, o Brasil tem aqui argumentos fortes que naturalmente chamarão o país a desempenhar um papel nesta redistribuição mundial de cartas.
Entretanto, o importante é observar bem o teatro de operações e as altas tecnologias utilizadas, manter os canais diplomáticos habituais com as partes beligerantes e trocar opiniões com quem tenha estado em iniciativas políticas de exploração de terreno.
Como esta tentativa simbolica de mediação Africana.
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