As eleições municipais do Brasil revelam até aqui um recuo na popularidade do Presidente Bolsonaro enquanto o PT do ex Presidente Lula não recupera a sua antiga força. O eleitorado procura outras opções, dado visível no reforço – em certos casos de forma muito acentuada – de forças liberais, tanto da direita como do centro. Algumas destas forças (ou personalidades delas a título individual) estiveram inicialmente dispostas a colaborar com o poder saído das eleições presidências de há dois anos, mas ultimamente têm-se afastado. No Brasil há 5.568 municípios e 145 milhões de eleitores. A dimensão dos municípios é muito variável, indo desde capitais de estado com milhões de eleitores até prefeituras rurais de alguns milhares. Os resultados da primeira volta refletem essa situação de recuo tanto do Presidente como do PT antigo poder. Nenhum dos dois estará diretamente na segunda volta em cidades como Rio de janeiro ou São Paulo e foram afastados em Belo Horizonte (Minas Gerais), Salvador (Bahia) ou Florianópolis (Santa Catarina) onde candidatos igualmente opostos a ambos já venceram na primeira volta. No Rio de Janeiro, o ex prefeito Eduardo Paes, candidato dos Democratas (dem), liberal-conservador, faz mais de 37% dos votos contra cerca de 21% do atual prefeito, o Bispo evangélico Marcelo Crivela, apoiado por Bolsonaro. A esquerda se tivesse apresentado candidato único estaria na segunda volta, mas foi em ordem dispersa, tal como ocorreu na maior parte do país. Em São Paulo, o atual prefeito, Bruno Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB do ex presidente Cardoso) obteve cerca de 32 % e o seu adversário na segunda volta será Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com cerca de 20%. Trata-se de formação iniciada numa dissidência de esquerda do PT e este, na presente eleição, demorou para lhe dar apoio. O candidato apoiado pelo Presidente Jair Bolsonaro ficou em quarto lugar com apenas 10%. O próprio eleitorado de esquerda move-se com algumas diferenças em relação a momentos anteriores, com provam o sucesso do candidato do Psol em São Paulo e o terceiro lugar da candidata do PDT (Partido Democrático Trabalhista) no Rio de Janeiro. Avaliações independentes assinalam que Bolsonaro é penalizado pelo seu negacionismo em relação à pandemia e pelos discursos em tom de autoritarismo, enquanto o PT continua a sofrer larga rejeição pelo envolvimento em casos de corrupção e ter apresentado baixos níveis de gestão a partir de 2012 ( o que deu lugar ás manifestações de protesto em 2013). Assim, reemergem partidos tradicionais, em alguns casos com posturas mais adaptadas á realidade, elemento que lhes faltou nas eleições de 2018. O velho MDB (movimento Democrático Brasileiro) aglutina personalidades de quase todas as tendências possíveis, sendo por isso difícil de o situar segundo os parâmetros habituais. O Partido Social Democrata (PSD) e o Democratas (Dem) oscilam entre a direita e o centro, consoante os problemas e os temas em debate. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) procura manter a sua definição centrista. Neste conjunto podemos notar o liberalismo (político e económico) como denominador comum. A esquerda tem no PT o seu partido principal, mas a soma dos demais na mesma área política ultrapassa-o, conforme se viu nestas eleições, aconselhando a mais moderação petista na reclamação de liderança. Nos totais desta primeira volta, o MDB conquista 755 prefeituras, o PP (próximo do poder) 671, o PSD 633, o PSDB 491, o DEM 423 e, em 11º lugar, o PT obtém 174. Mas como o tamanho dos municípios em número de eleitores é muito variável, o total de votos parta cada partido cria outra classificação. Assim, o MDB mantém o primeiro lugar com cerca de 10,9 milhões de eleitores, o PSDB e o PSD sobem a segundo, na faixa dos 10,6 cada. O Dem fez 8,2 milhões e o PT aparece em sexto com 6,9 milhões de eleitores nesta primeira volta. Outras duas formações de esquerda ou centro esquerda – o PDT e o PSB – representam respetivamente 5,3 e 5,2 milhões de eleitores. A segunda volta vai decorrer em mais de 50 cidades no próximo dia 29. Os duelos em São Paulo e Rio de Janeiro chamam a atenção mas há lutas importantes no Recife (pondo frente a frente dois primos ambos de esquerda), São Luís do Maranhão, Porto Alegre, Fortaleza, etc. Como em todo o mundo, as eleições locais ultrapassam sempre o âmbito local, sobretudo em épocas de grandes crises. Desta forma, as municipais brasileiras são um teste de força e de evolução partidária, já com os olhos nas presidenciais de 2022.
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