sábado, 18 de abril de 2020

Poemas de Yara Monteiro



         Mofo em casa


Pela janela
sigo olhando
a biografia em branco
deste lugar luzente.
A sua não vida entra na vida.

Sigo na melancolia
do oco dia.
Sigo março, abril e agora maio.
Sigo no lugar escuro
da fronteira

Mofa casa
Mofa céu
idade, fruta, ar.
Mofam murmúrios, vizinhos,
dias, corpos, palavras de sempre.
Mofam lamentos ouvidos por ninguém
e a todos iguais.
Mofa a laranja que não
engorda a silhueta.

Abro a janela
sigo-me imaginado
bando de pombos
multidão, cardume, alcateia
matilha e colmeia.
Sigo-me sendo ruídos, cheiros
vidas alheias.

Fecho a janela.
Labirinto o mofo,
a omissão
de mais dia,
menos dia,
de dia mais ou menos.



           Distantes

Que ruim é a vida
sem o toque
o beijo
e abraços.
A esta dis-tân-ci-a
Minha alma treme de frio
Como te ler o olhar?

Explicar a fenda
os fragmentos
as ruas despovoadas

Mudo
se tornou o Tempo.
Releitura constante
das nossas memórias.

Yara Monteiro
Autora do romance "Essa dama bate bué!", edição Guerra e Paz, Lisboa.

2 comentários:

  1. Algoritimos dos momentos vividos, nos olhares cheios de sonhos,
    Alcanço a minha alma vagabunda,
    Passa a passo a vida retoma.

    J aime ta littérature et tes poèmes. AS

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