sexta-feira, 26 de julho de 2019

Sobre o Acordo Ortográfico e sua revisão

Texto da Rádio Câmara-Brasília (de 11.01.2019)

Não há acordo sobre Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - Rádio - Notícias

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Assinado em 1990, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor no Brasil no início de 2009. Considerando esse último marco, são dez anos de tentativas de enquadrar a língua escrita nos oito países que falam português e assinaram o acordo: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

São mais de 280 milhões de falantes do português em todo o mundo, unidos pela língua, mas separados pela geografia e pelas particularidades de cada cultura. Apesar de todos os esforços, não há acordo sobre o Acordo Ortográfico, nem mesmo no Brasil, com o maior número de falantes e, supostamente, o maior interessado no assunto.

Na avaliação de Josenia Antunes Vieira, professora titular do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, o acordo foi feito por interesses políticos:

"Um acordo ortográfico ele é altamente, digamos assim, impositivo, ele é ditatorial, digamos assim. Ele vai impor mudanças que não seriam, nesse momento, o que aconteceriam, talvez até nunca acontecesse. (...) Nós temos diferenças culturais e também ideias diferentes sobre a cultura, tanto em Portugal como em outros países que falam a língua portuguesa no mundo. Na verdade, não precisaríamos de um acordo ortográfico. (...) É alguma coisa na contramão do desenvolvimento da escrita. Porque a fala, ela segue um processo de mudanças muito mais célere que os processos de escrita. A escrita é muito mais conservadora, ela é muito mais permanente e ela retém as mudanças."

Por conta da hegemonia do Brasil entre os falantes da língua portuguesa, segundo a professora Josênia, muitos portugueses têm se sentido "injuriados" com o Acordo.

Já o linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná, defende a necessidade do acordo:

"Olha, não é um problema de saber se o Brasil precisa. Na verdade, a língua portuguesa precisava disso. Ela vinha desde 1945, pelo menos, com duas ortografias diferenciadas: a portuguesa e a brasileira. Sempre foi uma intenção aí dos filólogos, principalmente do professor Antônio Houaiss, a unificação da ortografia. Chegar a uma ortografia com um único regimento. Então, o acordo teve essa finalidade: eliminar a duplicidade de ortografias que havia em português. Pensando principalmente numa ideia de internacionalização da língua."

Para a presidente da Comissão de Cultura da Câmara, a deputada Raquel Muniz, do PSD de Minas Gerais, os dez anos do Acordo Ortográfico são um momento para revisão da norma:

"Mudanças, elas não ocorrem só através de uma norma fria. Elas têm que vir a partir de modificações que ocorrem de acordo com os nossos costumes. E ao longo dos anos, da colonização, a gente percebe essa mudança, e isso acaba se transformando em lei. Esses dez anos, eu acho que seria pertinente, dentro da Câmara, a gente fazer um trabalho pra avaliar o que que efetivamente aconteceu com essas normas, se algumas precisam ser revistas e, com certeza, eu acho que é um marco importante se fazer uma revisão de tudo isso."

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa só se tornou obrigatório no Brasil em 2016. Em Portugal e Cabo Verde o acordo também já é obrigatório. Mas isso ainda não ocorreu nos outros países que falam português.

Nota minha:
- este texto tem imprecisões.  São Tomé e Príncipe e a Guiné Bissau também ratificaram. Reproduzo por traduzir diferentes opiniões numa fase em que podem ocorrer avaliações,  conforme previsto legalmente em todos os países signatários. Será  util para qualquer pessoa falante de português.Há quem pretenda voltar ao português antigo e os que querem introduzir novas modificações.
Das opiniões citadas, o meu apoio vai para o respeitado linguista da UFP, Carlos Alberto Faraco, na linha de pensamento do brasileiro  Antônio Houaiss e do português Malaca Casteleiro .

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