Se o cenário consecutivo à conversa telefônica Trump-Putin prosseguir, ganham mesmo.
Washington tem argumentos suficientemente pesados sobre os dois beligerantes para trabalhar segundo seus próprios termos ( que ainda estão sendo detalhados internamente): levantamento das sanções e congelamentos à Rússia, com reinserção desta na economia mundial (como prevê o bem informado V. Orban); prestar assistência ou cortar apoios à Ucrânia.
No imediato, Trump quer demonstrar seu poder, submetendo a Europa à dúvida quanto a seu papel e afastando os candidatos a mediadores que se foram manifestando, excetuando a Arábia Saudita.
Em qualquer conflito, o estatuto de mediador fornece altos dividendos políticos. Quando o conflito é de efeito global, tal estatuto só é atribuído aos mais influentes e auxiliares por eles designados. Os USA não cedem o protagonismo a ninguém, mas aceitam os sauditas, porque precisam muito deles na Ásia Ocidental, porque eles dirigem a OPEP plus junto com a Rússia e desenvolvem discretamente contatos com os beligerantes .
O primeiro lugar mencionado para encontro presencial Putin-Trump é Riade ou algum palácio suntuoso de outra cidade da AS.
A política de Trump tem mesmo continuidade em relação à de Joe Biden. O valor do equipamento militar fornecido pelos USA - segundo Trump seriam cerca de 500 bi de USD - pode ser em parte transformado em investimento para propriedade de algumas terras raras ucranianas (podendo ir até a metade) super valiosas no abastecimento das IT norte-americanas ou impedir que sejam usadas por rivais.
Séria hipótese de trabalho seria o reaparecimento do G8 incluindo, portanto, a Rússia. Como efeito, o G20 e sobretudo os Brics, passariam a subalternos, pontos de encontro ocasionais ou ainda estrutura em stand by para uso na próxima crise mundial. A escolha de Putin será apenas em função das vantagens.
O dólar US permanecerá dominante, mas o rublo passará a moeda conversível com o aumento das trocas comerciais russas e investimentos diretos estrangeiros que receberá.
O ataque concreto aos Brics e ao G20 já começou com " punições " à África do Sul: corte de ajuda USA (valor simbólico), ameaça de redução drástica no acesso de produtos sul-africanos ao mercado estadunidense ( valor central agravante da crise econômica do país africano) e boicote de Washington à próxima reunião do G20, marcada precisamente para a África do Sul.
Sobre fronteiras, a Casa Branca atual não se incomoda nada que elas sejam corrigidas em outros continentes, até porque cria antecedentes a projetos seus na matéria, não obrigatoriamente com ocupação (embora não excluida) mas com as regras que pretende impor à travessia de pessoas e mercadorias.
A Rússia recebe uma pequena porção da Ucrânia ( onde vivem russofonos) ficando longe de seu objetivo inicial; a Ucrânia fica com os ucranianos e não entra para a OTAN (formalmente).
Uma negociação com estes componentes exige tempo, dando margem para contrariedades.
Por exemplo: Kiev eventualmente conseguiria apoio na Europa que, se acrescido por mobilização interna, consideraria suficiente para prolongar sua resistência, obrigando o adversário a manter economia de guerra e sofrer baixas no terreno. Quanto mais o ultra-nacionalismo crescer na Europa, menos isso será possível.
Outro exemplo: a China está silenciosa mas não vai permanecer assim, dada sua capacidade econômica e alta influência no Kremlin. Está olhando e alimentando o data center especial de Xi.
Mais um: quatro anos podem ser insuficientes para implementar um acordo que não seja mera alternância de cessar-fogo e renovar de combates ou novas reivindicações globais. Nada garante que o atual poder em Washington ultrapasse esses quatro anos.
Entretanto:
é bom estarmos preparados para grande vaga de fake news e propaganda de ódio, em torno das negociações;
será ótimo que cada país do resto do mundo melhore seus desempenhos internos. É básico para resistir às pressões que vêm por aí.
Valioso contribuído. Abraço
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