A cerca de duas semanas da reunião máxima do G20, no Rio de Janeiro, a economia mundial impõe adicionais na agenda, nem que seja de bastidores ou em paralelo.
As duas mais dinâmicas economias nacionais - EUA e China - estão em clima de incertezas mas, mesmo assim, avançam em inovação e produtividade. No primeiro caso, a incerteza maior vem da área política e no segundo vem da maior ou menor solidez das recentes medidas para circunscrever e superar os altos riscos emitidos pela paralisação do poderoso imobiliário.
As relações entre esses dois países vai determinar o ambiente geral das trocas internacionais.
Os EUA, complementados por alguns polos aliados ( por exemplo Holanda e países asiáticos) mantem vantagem nas inovações mais decisivas.
A China amplia seu mercado interno, está na dianteira em produtos altamente competitivos à escala mundial ( veículos elétricos, painéis solares, por exemplo), conquista papel central no vasto mercado russo onde, graças às sanções internacionais decorrentes da guerra na Ucrânia, quase duplicou suas exportações para a Rússia.
Ainda na Ásia ganham óbvio relevo os recentes entendimentos entre a Índia e o Japão, tanto nos parâmetros econômicos como de segurança. Duas economias de forte capacidade instalada e meios materiais e humanos de criatividade.
Africa não apresenta novidades, embora os fornecimentos de lítio tendem a reganhar importância, o Governo de Unidade Nacional na África do Sul suscita otimismo em áreas interessadas no investimento e estabilidade, ao mesmo tempo que se aguardam sinais, quanto a repercussão produtiva sub-continental, de grande projeto de ligação partindo de Angola.
Em termos institucionais, positividade sobre eleições livres e justas no Senegal, África do Sul, Botswana e quadro previo no mesmo sentido, ainda este mês, na Namíbia. Mas a pergunta de décadas sobre o amanhã africano continua sem resposta, em larga escala bloqueado pelo extrativismo.
A União Europeia é uma incógnita com divergências e debates importantes para todo o mundo. No fundo, entre mais ou menos protecionismo. Que os regimes de extrema direita ou influenciados por ela, insistam no soberanismo politico com seus prolongamentos econômicos, não é surpresa. Que setores liberais, opostos a tal soberanismo, optem pelo protecionismo econômico, parece contraditório ou, então, reflete fragilidade de suas economias.
A linha de abertura vem dos sociais democratas, por exemplo da Alemanha, opostos aos exageros aduaneiros com relação a veículos elétricos ( VE) chineses e favoráveis à assinatura de acordo de livre comércio com o Mercosul.
A entrada em vigor deste acordo teria impacto direto nas economias envolvidas e reduziria dependências perante as duas maiores economias mundiais. Na América Latina, os esforços de maior margem de manobra na relação com os EUA têm o conhecido perfil histórico, ao mesmo tempo que diversas economias com governos democráticos - incluindo o Brasil - procuram contrariar práticas de dumping em importações procedentes da China, como no significativo setor do aço.
Isto não impede investimentos chineses. As obras da BYD para iniciar produção de VE no proximo ano em Camaçari, Bahia, demonstram que a defesa econômica pode ser mais eficaz em clima de abertura.
É claro que para a América Latina faltam modelos de dinamização como os asiáticos. As taxas de crescimento continuam em ritmo lento, portanto, sem força para melhorar efetivamente as condições sociais internas e o peso em decisões internacionais.
A Cúpula do G20 vai decorrer neste contexto. É o maior evento intergovernamental do ano. Todos os blocos econômicos importantes estarão presentes e talvez já se saiba quem vai governar os EUA. Porém, como qualquer outro evento internacional atual, não vai resolver nada. As guerras vão continuar e as taxas de crescimento evoluirão de acordo com a competência das políticas nacionais ou sub-continentais de maior dimensão, seja qual for seu grau de desenvolvimento.
A importância da reunião do G20 no Rio é precisamente confirmar esse contexto mundial de luta entre hegemonismos e esse requisito para acelerar ritmos de crescimento nos não hegemônicos.
BYD em Camaçari